SECCO, Márcio. Verdade e Método em Francis Bacon. [Dissertação]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Filosofia; 2004. p. 59-85.
Márcio Secco é doutorando em Filosofia pela UFSC, onde também fez a sua graduação e o mestrado, este último tendo sua dissertação intitulada Verdade e Método em Francis Bacon, e que apresenta, em seu terceiro capítulo: Indução e Hipótese, o método de indução do pensador inglês do século XVI e XVII, ao mesmo tempo em que o contextualiza com o pensamento escolástico da época e também o compara a filósofos da antiguidade: Platão e Aristóteles.
No início, Secco nos mostra que, para Bacon, a indução não se limita a descoberta de algo pela experiência, mas é também o processo de verificação e validação do conhecimento adquirido. Secco lembra que Aristóteles também via na indução o meio para formulação de proposições gerais, e tinha a experiência como o caminho para o conhecimento. Porém, como bem sabemos, Bacon discordava do método aristotélico, por o considerar falho e sem o uso da experiência para a correção de teorias. Pensamento esse que ia contra a escolástica de sua época, sendo essa baseada no pensamento de Aristóteles. Bacon também criticava, na escolástica, as disputas de opiniões sobre autores rivais, que distanciavam a razão da natureza, como resume Secco (2004. p. 65), “a mente humana […] devota seu tempo à análise de discursos de outros homens, com o único intuito de perceber por quais meios poderia predominar sobre as ideias anteriores, tomadas sempre como adversárias.”
Mas apesar da crítica aos filósofos da antiguidade, o pensamento de Bacon pode ser comparado ao de Platão, como Secco faz de forma bastante didática ao traçar os paralelos entre a “alegoria da caverna” e a “teoria dos ídolos”, de Bacon, apresentada na obra Novo Órganon. Para Platão, lembra Secco, o mundo que nos é percebido está sujeito a transformações, então não se pode obter um conhecimento verdadeiro pelos sentidos, apenas opiniões. Bacon pensa de forma semelhante ao afirmar que os sentidos geram as impressões e essas as ilusões, que não representam a verdade. Essa verdade é, para Platão, o mundo das formas. Bacon, por sua vez, tem um entendimento diferente sobre as formas, como explica Secco (2004. p. 68),: “As formas baconianas estão ligadas às qualidades que formam os objetos, que são consideradas por nosso autor como partes indivisíveis da natureza, tais como cor, densidade etc.” E Bacon, contrariando o pensamento platônico, reconhece a experiência como fonte de conhecimento, negando a ideia de reminiscência. Já a maiêutica socrática, apresentada por Platão, pode ser considerada uma forma de indução por exclusão, pois parte do particular para o geral, negando as falsas hipóteses.
Secco ainda indica que Bacon confiava nos experimentos como meio para se alcançar a certeza de um conhecimento. Os experimentos em seu tempo serviam apenas para a comprovação de teses já formuladas. O pensador inglês reprovava essa busca da verdade apenas pela a afirmação, onde se ignora os erros. Para ele, a experiência deve verificar também o que não se é conhecido, para se encontrar novas informações. Devem ser realizadas fora do curso natural, em laboratórios e com instrumentos. Como diz Secco (2004. p. 74), a experiência deve “forçar a natureza a revelar aquilo que é buscado no momento em que o pesquisador a ela se dirige”. Essas ideias, contrariando o pensamento da época, buscavam afastar o pensador de experimentos que fossem apenas mentais.
Depois Secco apresenta a “investigação sobre a forma do calor”, e como o pensamento de Bacon registrava as observações no que ele chamava de tábuas, sendo três listas de características do calor, na primeira descrevendo fatos e objetos onde se dá a presença de calor, na segunda a ausência e na terceira onde o calor se apresenta com variedade de graus. Assim ele organizava as informações empíricas e pela exclusão dos dados afirmava uma hipótese, que por sua vez deveria orientar as novas pesquisas.
Márcio Secco expõe de forma bem clara e objetiva o pensamento de Francis Bacon, inserindo sempre o contexto histórico e comparando as ideias do pensador com as de filósofos por ele criticados. Uma forma bastante didática, que joga uma boa luz no caminho de quem busca trilhar as páginas do Novo Órganum.
Palavras-chave: Francis Bacon. Indução. Hipótese.
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