O diretor de Edward Mãos-de-Tesoura, O Estranho Mundo de Jack, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça e tantos outros filmes, está na lista das possíveis celebridades com Síndrome de Asperger, junto com Bob Dylan, Woody Allen, Bill Gates, Andy Warhol, etc. A Síndrome de Asperger é um transtorno do espectro autista, sendo uma forma mais branda de autismo, diferenciando-se do autismo clássico pelo fato do indivíduo possuir fala compreensível.

Em geral o autismo caracteriza-se como um distúrbio no desenvolvimento que afeta a capacidade de comunicação e interação. As principais características da síndrome são: a dificuldade em estabelecer relações sociais, causada pela Cegueira Mental (que é um prejuízo na Teoria da Mente) e pela dificuldade na compreensão da Linguagem e a tendência de ter um raciocínio mais visual (que leva o indivíduo a interpretar tudo no sentido literário); um padrão de comportamento repetitivo e restrito a certas atividades, com apego exagerado à rotina, e também a assuntos com temas bem específicos.

Erroneamente o autista é visto como aquele que vive isolado em seu próprio mundo, a verdade é que ele tem dificuldade em compreender alguns aspectos da interações sociais e não sabe como, ou não consegue, muitas vezes reagir à elas. Soma-se isso aos interesses específicos, nos quais suas vidas orbitam, e temos a ideia do cara fechado em seu mundo particular.

A exposição O Mundo de Tim Burton, no Museu da Imagem e do Som, de São Paulo, coloca o visitante dentro da cabeça do diretor e permite que se tenha uma ideia de como funciona a mente de alguém que cria o seu próprio mundo, porém não fechado, mas aberto à visitantes!

Numa entrevista, antiga já, Johnny Depp contou como foi conhecer Tim Burton, pouco antes de trabalharem juntos no filme Edward Mãos-de-Tesoura. Ele disse que percebeu que estava diante do próprio Edward. O filme de certa forma trazia algo de biográfico, representado no personagem que não compreendia as coisas do mundo no qual estava inserido, mas que era de certa forma feliz fazendo sua arte.

Numa passagem do filme, que eu particularmente adoro, a vizinha religiosa, temendo o que é diferente por puro preconceito, acusa a família que acolheu Edward de serem ovelhas desgarradas, ele, por sua vez, na compreensão literal da linguagem, responde: “não somos ovelhas”. É a alfinetada crítica dada sem consciência, por pura inocência, tão comum aos indivíduos com a síndrome.

Contam que Tim Burton teve uma infância reclusa, dedicada a filmes de ficção científica e de terror, que aparecem no começo da exposição como as referências para suas obras. Depois, dando continuidade ao passeio, mergulha-se (para alguns quase que literalmente), de cabeça no mundo do cineasta. O que vemos é seu apego pelos personagens bizarros, criaturas disformes que são belas em seu contexto, mas que causam espanto quando inseridos no mundo comum.

Quase toda a obra de Tim Burton parece refletir essa relação do ser estranho em meio aos normais, sentimento que todo “aspie” tem o tempo inteiro, e que só encontra paz num determinado mundo particular, mas não necessariamente isolado.

As obras lá expostas, de esboços em guardanapos à telas de óleo, acrílica e pastel, retratam esse mundo particular construído com apego ao estranho, ao humor negro e às interpretações literais da linguagem, que quando não compreendidos pelos outros resulta em solidão e melancolia.

Burton faz da expressão artística de seu mundo um convite à compreensão daqueles que não são como todo mundo.