Sabe aquela vontade de escrever algo, que ao mesmo tempo em que serve de reflexão para algo na vida, também é uma indireta crítica para alguém que você conhece e você acha que merece um puxão de orelha?
Não que eu queira dar uma de moralista. Longe disso. Minha ideia está mais para uma construção de um raciocínio que possa ajudar a colocar esse alguém no lugar do outro, já que aparentemente a empatia por si só não basta.
O que é, por um lado, bastante irônico, vindo de alguém que deveria ter dificuldade de se sentir empático. Pelo menos, de sentir essa empatia puramente emocional. Não. Pra mim ela precisa ser lógica.
Mas trata-se de uma lógica tão simples, tão primária, tão óbvia, que é até estranho precisar ensinar ela para alguém, pois com certeza esse alguém já sabe e que por alguma razão, que eu desconheço, faz questão de ignorar quando coloca a sua própria vontade acima do bem estar dos outros.
Não fazer para os outros o que não quer que façam para você.
É meu único mandamento. Todos aqueles dez cabem aí. Críticos dizem que se trata de um mandamento apático, pois sugere a não ação, e no lugar sugerem que você faça para os outros o que gostaria que fizessem para você. Mas há um erro aí.
Se eu fizer para os outros o que eu quero que façam para mim, estarei novamente colocando minha vontade acima da vontade dos outros. Os gostos são relativos. O que é bom para mim, pode não ser para o outro. Meu gesto pode não ser interpretado da mesma forma que eu interpretaria.
Outros podem achar que se trata de uma falácia, ou um problema linguístico. Não fazer para os outros o que não quero que façam para mim e fazer para os outros o que quero que façam para mim, teriam o mesmo sentido lógico. Mas eu discordo, pois a diferença está na imposição da sua vontade contra o outro. O ético pede licença antes. O anti ético prefere pedir desculpa depois, ou nem isso.
Ao considerar que eu desconheço o outro, que eu não sei como ele irá reagir, eu assumo uma postura cética, que remete aos conceitos de Afasia, Ataraxia e Epoché, que são, respectivamente, atitudes de não se pronunciar, não se perturbar e não julgar, por considerar indeterminado o caráter de todas as coisas. Há, desse modo, uma forma de ética dentro do ceticismo.
Claro que aceitar que se desconhece inteiramente o outro, não é uma forma de empatia, não é uma forma de se colocar no lugar dele, pois o outro é sempre um mistério e talvez seja sempre assim. A graça na coisa toda está justamente na curiosidade e no aprendizado. Mas o exercício de tentar enxergar o mundo com os olhos do outro já é um bom caminho para a ética.
Bom, a vontade de dar o puxão de orelha não passou, mas se a pessoa ao menos ficar na dúvida quanto às próprias atitudes, então já valeu a pena!
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