Inventei de revirar o lixo na esperança de encontrar você. Talvez houvesse alguma forma de reciclá-la e resgatar aquele velho momento em que tudo parecia estar caminhando para um lugar bom. Mas você não estava mais lá. O caminhão já havia passado, seguindo seu caminho para aquele imenso aterro de lembranças minhas.

Porém, alguma coisa acontece nesse amontoado de interpretações erradas e pré-julgamentos, um desses fenômenos estranhos da mente, em que aos poucos tudo retorna para o lugar de onde veio. Pedaços de cartas rasgadas reaparecem nesse “lixeiro azul vazio escroto” e se juntam novamente. Assim como os pixels de fotografias digitais, também excluídas, lentamente caindo num tetris nostálgico, dando forma ao que poderia ter sido mais.

E não demora muito para que o lixeiro volte a transbordar, como se aquele caminhão se deslocasse reversamente no tempo, num ciclo infinito de transferência de conteúdo entre o coração e a mente. Uma maldição eidética.

Essa recusa, doentia, que chamam de Esperança, é que me faz guardá-la, na verdade, enquanto iludido eu a despedaço. É meu peito que transborda de fragmentos, que minha mente devolve restaurados.

“…deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!”
Disse o corvo, ‘Nunca mais’.”

“Você poderia ter isso tudo. Meu império de sujeira.”