Faz tempo que não escrevo, isso geralmente acontece quando as coisas estão bem. Elas estão melhores, sim.
Pintei telas em setembro, não muito espontâneas, pois me obriguei um pouco. Uma reprodução de ondas e um cavaleiro meditando. As ondas chamei de O Náufrago, com base na original que tinha vários caras se segurando no que restava do navio. Eu imaginei um cara sozinho, pois acho que seria mais assustador estar só. Mas a tempestade passou.
É sobre depressão. Sobre não ter ninguém para me resgatar. É algo que tenho que enfrentar sozinho. Tenho?
Em outubro eu tive mais uma consulta com o psiquiatra. Troquei de marca de antidepressivo e continuo com o Risperidona, mas em dose maior. Tenho me sentido mais ativo, menos ansioso, a vida parece mais leve. Só o trabalho ainda me tira um pouco do sério, mas minhas crises sumiram. Eu encaro os problemas com menos raiva.
Na terapia aprendi que não devo me sentir culpado por sentir raiva. É natural. As pessoas erram e o peso do erro sobra pra mim. Conversamos sobre minha culpa nos relacionamentos que se distanciam. Eu não sei manter amizades. Nem me esforço. Minha relação com o outro é muito utilitarista. Também não sei começar. Sinto vergonha de fazer terapia assim. Me sinto um caso perdido. O grau um no autismo faz todo sentido agora. Não sei me relacionar sem que alguém me ajude.
Aliás. Tenho finalmente um documento assinado por um profissional especialista em autismo comprovando meu diagnóstico. Mas eu gostava mais do termo Aspie.
Solicitei férias em um período igual ao do ano passado, recebi um não como resposta. E nenhuma justificativa, se é que ela existe. Ela vai começar mais cedo, pelo menos. Mas ainda assim, pior período pra férias. Se der passarei uns dias na praia. Quero ver o mar. Quero sentir as ondas. Não sei o porquê, mas o oceano se tornou sagrado pra mim. Ondas estão dominando minhas pinturas, mais do que caveiras.
Eu achei que amava alguém. Não sei mais o que sinto, não sei como rotular. E eu preciso de rótulos, é a minha forma de entender o mundo, catalogando-o. Mas a moça está tão distante. É tudo digital. E eu odeio isso. Não sei o que ela pensa de mim, se é que pensa em mim. Não sei como ela sente as coisas que sente. Mas reciprocidade é um fato não verificável. Desistir dela é tão difícil. Mas necessário.
Um dia eu encontrarei alguém como ela melhor que ela.
Estou quase terminando meu livro de RPG. Um sonho de mais de 10 anos. Finalmente botei a cabeça pra funcionar. Acho que foram os remédios. O ânimo com o livro é o que tem me mantido pra cima nesses últimos meses.
Pena que o povo do jogo nunca mais se reuniu.
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