Trabalhadores em todo o mundo anseiam por suas férias. Alguns, creio eu, entre os mais miseráveis, se contentam com a chegada do final de semana. Se eu lastimasse, de tal forma, as minhas horas na labuta ansiaria pelo silêncio.
Mas depois do batente o mundo, caótico e feio, é barulhento. É como se um direito de perturbar a paz fosse adquirido no pacote ao comprar um som automotivo. É como se o ruído de uma buzina traduzindo a sociopatia de seu condutor pudesse educar e corrigir demais motoristas. Mas nem tudo é carro. No ônibus, entre vozes incessantes e chiados de fones de ouvidos vagabundos, havia uma conversa calorosa, entre gargalhadas, sobre o troco errado que o cobrador deu.
E me pergunto: o que um troco errado poderia ter de tão interessante para alimentar uma conversa entre três pessoas durante vinte minutos? Não havia ali um discussão ética sobre devolver a quantia excedente para o atrapalhado rapaz da tarifa. Nem havia ali uma crítica à falta de escrúpulos da moça que se aproveitou do erro do cobrador, pelo contrário, o grupo era unânime em preconceituosamente julgar o rapaz pelo seu erro: burro!
Houve um tempo em que pela meditação eu fechava meus ouvidos da mesma forma que fecho meus olhos quando não quero enxergar algo. E havia paz. Havia silêncio. Uma tranquilidade tão sagrada que eu seria capaz de matar uma baleia azul se ela resolvesse aparecer do meu lado cantando. Sem ruídos apedrejaria sabiás e tal como Jesus contra a figueira sem frutos, eu amaldiçoaria qualquer árvore cujo o ruído da folha caindo ao chão perturbasse minha paz.
Mas hoje em dia, ao fechar os meus olhos e me deslocar, em minha introspecção, para meu palácio mental, as vozes me seguem e contaminam o espaço com suas banalidades e futilidades. Então, num estado miserável eu anseio pelo final de semana, que se mostra insuficiente. Anseio pelas férias, que se mostram insuficientes…
– Anseie pela morte – diz o amigo.
Tudo a seu tempo, eu respondo.
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