O ano começou frágil. Não frágil e belo como uma bolha de sabão, cuja curta vida é suficiente para encantar. Mas frágil e triste. Suicídio é algo que faz você pensar qual a sua parcela de culpa em deixar o mundo tão ruim para o Outro.

Um coração partido, sonho desfeito e planos jogados no lixo também pesaram no início do ano. Uma dor que não passa e deixa uma cicatriz aberta para sempre. Um vazio que não se preenche.

Nas folgas de fevereiro, merecidas pelo acúmulo de horas extras, eu reciclei telas. Comprei o tecido, cortei, preparei e grampeei as peças em velhas molduras, de artes que destruí por não querer mais guardar certas lembranças. Foi uma reciclagem de espírito também.

Do fim de fevereiro até o fim de março, pintei três Memento Mori. Um deles é enorme e se tornou minha obra mais que favorita. Tenho essa ideia de que a morte é uma passagem e que algo precisa ser destruído para que algo novo cresça. Destruí telas que já amei e as troquei por caveiras.

Perto da metade do ano, teve um mês marcado por coisas que deram errado… Coisas do trabalho, que me encheram de vontade de desistir. Ainda sobre trabalho, vi durante todo o ano, colegas irem embora e outros serem demitidos. Uma enorme sensação de que o barco estava afundando. Não afundou. Algumas mudanças radicais foram para melhor. A rotina parece ser praticamente a mesma, mas há uma sutil mudança, que tornou tudo mais suportável.

Tive neste ano uma encomenda de pintura apenas, mas é sempre bom pintar algo que toca o coração de quem recebe. Fiz dois freelas, que me garantiram também uma graninha extra.

Pintei reprodução de Rembrandt e um retrato de uma modelo francesa. Emoldurei duas telas, um memento mori e uma reprodução em aquarela de uma pintura de um navio.

Mais uma parente nos deixou, mais uma tia e mais parentes nasceram. Nossa cadelinha nova morreu tragicamente. Dói demais. É um ano de luto. Mas já temos outra para alegrar nossas vidas.

Continuei sendo ignorado pela única mulher que ainda me interessa nesse mundo e continuei ignorando as pessoas que se interessam por mim. Obviamente eu não a persigo, mas acho que nem existo para ela… não sei mais como me fazer notar… nem ajudá-la eu consigo. Às vezes acho que ela me odeia, sem eu saber o motivo.

Fui parar diversas vezes em hospital. Machuquei meu olho, ainda estou tratando ele. Quase fiquei surdo. E até em urologista eu fui parar. As enxaquecas pioraram, tomo diversas vitaminas, mas acho que não fazem efeito. Até o dia de hoje, perdi mil reais com lentes de óculos que não funcionam, ano que vem, talvez eu tenha que brigar no Procom para reaver esse dinheiro ou lentes corretas.

Voltei para o Suicide Girls, e como antes, o feedback é melhor do que no Instagram. Com bem menos seguidores e seguidoras, no SG eu tenho mais comentários e curtidas do que na rede do Markinho, onde estão as pessoas que chamo de amigos…

Em 2021, lutei com meus demônios e perdi. Lutei de novo e consegui um empate. Acho que vou ganhar um dia, nem que seja trocando-os por outros.

Comprei fogos de artifício para comemorar o fim desse ano de merda. E estou com medo de estourá-los.


Sobre os últimos dias…

Gosto das pessoas humildes, das que reconhecem os próprios erros, duvidam das próprias certezas , cujo universo não gira em torno de si e como nós na Terra, ficamos na periferia da galáxia, olhando para o céu noturno, repleto de estrelas mais altas do que nós. Essas sim, dignas de admiração. E sendo assim, não gosto do inverso de tudo isso, dessas pessoas que se acham Sol, com puxa-sacos orbitando sua esfera.

Dignidade diz respeito ao que tem valor, que condiz com os propósitos. Reconhecer a própria miséria é mais digno do que ostentar uma ilusão. Aprendi isso na última sexta-feira. Mas eu sei que nunca fui o Sol de ninguém. Eu sou um meteoro.